sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Amante Bandido

Fotografia: Adelino Oliveira

Tranquilamente afasto o trilho das nuvens.
O dia escalda cruelmente,
com seus raios dourados,
os restos dos campos que nos separam.

Te sinto que para lá dos montes,
através das correntes dos meus regatos,
que correm serenamente para o teu oceano,
onde existe o meu mistério.
Te sinto para lá dos horizontes,
através dos suaves ventos dos vales.

Queria ser como um cigano errante.
Desvendar-te no rasto dos caminhos sem tempo,
um aventureiro sem casa,
um cavaleiro à solta,
um barco sem amarras à deriva nos abismos,
uma gaivota perdida na rota dos mundos.

Cruzar as fronteiras num cavalo veloz,
em silêncio sem levantar a voz.
Partir à desfilada pelos limites,
entre as silhuetas longas das cordilheiras,
entre o céu aberto e a Lua Cheia.
almejando sempre um amor traiçoeiro.

Cair trespassado sobre o luar de Agosto,
como um amante bandido,
como um impulsivo bandoleiro.

 Texto: Victor Gil

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Abraço a Lisboa

Fotografia: Rui Pires – Olhar D’Ouro

Um dia quis abraçar, Lisboa,
mas os meus braços foram curtos,
para envolver todo o espaço.
Faltavam os teus, nos meus braços,
para completar o abraço.

Vou pedir às asas das gaivotas,
às algas que atravessam mares,
às marés,  às águas do Tejo.
Às nuvens, às vagas, aos ventos,
que me tragam o teu beijo.

Pedir aos peixes todos do mar,
às canções dos marinheiros.
às rotas dos velhos veleiros.
Que no desatar das suas velas,
te tragam por dentro delas.

E quando os meus braços estiverem,
envolvidos nos teus braços,
na voz de um fado que ecoa.
Enlaçado em teu abraço,
nós vamos abraçar Lisboa.

Texto: Victor Gil

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Desejo

Imagem: Margusta Loureiro

Minha boca está fermentando os beijos,
que teus lábios irão beber,
meu corpo gerando paixões,
que um dia iremos soltar.

Se conseguir encontrar a flor azul,
que mora ao sul,
para além do mar.

Entre as folhas do teu corpo,
quero sentir os teus dois pontos,
que em teu peito sonho erectos.

Dar-te o sabor da minha boca
e que os meus beijos molhados,
reguem os teus,
gota a gota.

E na púbis delicada do teu colo,
sentir no meu desejo escondido,
a humidade do prazer,
de fazer amor contigo.

Texto: Victor Gil

terça-feira, 14 de junho de 2011

À amiga FERNANDA COSTA (FERNANDINHA)

Fernanda Costa

           A vida é feita de encontros e desencontros, partidas e chegadas, de ausências e retornos. Quando criei este espaço, fi-lo com a intenção de fosse um ponto de encontro, onde as minhas palavras se cruzassem com as imagens dos meus amigos. Foi aqui que conheci a Fernanda Costa (Fernandinha). Ela me cativou pelas imagens, pelas palavras, mas sobretudo pela simpatia. Um dia “roubei-lhe” uma foto, onde coloquei um poema chamado “Lua Azul”. Foi a primeira pessoa a quem “roubei” fotografias para acompanharem as minhas palavras neste espaço. Por isso fiquei chocado ao saber do seu desaparecimento. É verdade. A nossa amiga faleceu no dia 25 de Abril de 2011. Os meus sentidos pêsames à família. Que descanse em paz. Até sempre.

          Queria escrever umas palavras que de certa maneira, homenageassem esta amiga que nos deixou tão cedo, mas neste momento, só consigo rabiscar, estas:

Letras ausentes

Desta vez, sem coragem,
não sou capaz de plantar,
estas linhas com palavras.

Rasgo folhas indecisas,
mondando letras ausentes,
nos versos de velhas quadras.

Sou vento frio da saudade,
sou manhã de nevoeiro,
penumbra que a noite envolve.

Sou aresta dos abismos.
sou coração magoado,
gota de água, quando chove.


Texto: Victor Gil

terça-feira, 31 de maio de 2011

Soneto do Desencontro

Fotografia: Mª Angeles y Jose Casielles

Aonde estás que não consigo chegar perto,
em que caminhos tens o sumo da paixão.
Em que paisagens atravesso o teu deserto,
onde é que eu posso encontrar teu coração.

Será que um dia ainda teremos nossos beijos,
qualquer ternura prometida sem desvelos.
Encostar-me com meu rosto, nos teus seios
e no meu colo adormecer, os teus cabelos.

Aonde andas, amor proibido, secreta amante,
na longa estrada, no breve trilho, chão errante,
entre as brumas ou nas sombras que prevejo.

Porque eu não sei por onde ir, ao teu encontro,
resta-me apenas aqui ficar, no desencontro,
a sonhar com a tua boca e com teu beijo.


Texto: Victor Gil

domingo, 20 de março de 2011

Distâncias


Azulejo em Corda Seca da Autoria de José Andrade


Antes era a distância,
a extensão das gotas do mar,
a vastidão dos meus medos.
Agora as serras e os montes,
os vales, os rios e os riachos,
que escondem os teus segredos.

Antes os barcos abandonados,
presos às amarras do cais,
às areias dos meus sonhos.
Hoje as terras remotas,
os caminhos longínquos,
que ocultam os teus muros.

Inventámos rosas de ventos,
nos rumos que traçámos,
nas rotas que sonhámos.
Porque os ventos são gemidos,
que se ouvem no silêncio
e nos atalhos esquecidos.

Mas aqui entre as lajes dispersas,
onde as palavras saem devagar.
Os poemas atravessam o vento,
ficam tropeçando nas letras,
sem rima, ritmo ou tempo.

E entre o Norte e o Sul,
do teu azul onde me perdi.
Iludo as veredas sem destino,
que é onde eu posso encurtar,
o instante de cair dentro de ti.


 Texto: Victor Gil

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Tempo sem Tempo

Fotografia: Jorge C. Reis

Quantas ondas vão e voltam, quantos ventos,
encontrarão no meu deserto o seu descanso.
Quantos segredos vão soprar entre os meus dedos,
quais são os rios que encontrarão o seu remanso.

Que tempo e sombras irei ter de percorrer,
quantos pingos do meu pranto irão cair.
Para um dia, eu te encontrar e então poder,
entrar em ti, escutar por fim, o teu sentir.

Mas se depois de tudo aquilo em que pensei,
não mais puder alcançar o que eu sonhei,
nem conseguir encaminhar estes meus passos.

Só me resta em vão, esperar que o tempo passe,
como se o tempo, já sem tempo não bastasse,
para que um dia, eu possa estar entre os teus braços.

Texto: Victor Gil