terça-feira, 29 de novembro de 2011

Folhas de Outono


 
Foto: Guma Kimbanda
 
As folhas começam a tombar entre os caminhos,
soltam-se ao vento, num ritual de cores austeras,
deixando ver nos ramos crus, os velhos ninhos,
esvoaçando caducas em nostalgias severas.

Nas águas mansas, são como risos singelos,
beijos constantes, que se ausentam sem retorno,
numa partida, onde o adeus é dos mais belos,
desfraldam mágoas nos esteiros do Outono.

Como penas de aves, sussurrando nas veredas,
marcam atalhos de um cortejo sem palavras,
de trovas simples, embalando o ameno tempo.

Num suave deslizar, remoinham entre os pastos,
caiem no liso chão, nos recantos nos penhascos,
quais papéis gastos, deixam-se arrastar no vento.

Texto: Victor Gil

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Amante Bandido

Fotografia: Adelino Oliveira

Tranquilamente afasto o trilho das nuvens.
O dia escalda cruelmente,
com seus raios dourados,
os restos dos campos que nos separam.

Te sinto que para lá dos montes,
através das correntes dos meus regatos,
que correm serenamente para o teu oceano,
onde existe o meu mistério.
Te sinto para lá dos horizontes,
através dos suaves ventos dos vales.

Queria ser como um cigano errante.
Desvendar-te no rasto dos caminhos sem tempo,
um aventureiro sem casa,
um cavaleiro à solta,
um barco sem amarras à deriva nos abismos,
uma gaivota perdida na rota dos mundos.

Cruzar as fronteiras num cavalo veloz,
em silêncio sem levantar a voz.
Partir à desfilada pelos limites,
entre as silhuetas longas das cordilheiras,
entre o céu aberto e a Lua Cheia.
almejando sempre um amor traiçoeiro.

Cair trespassado sobre o luar de Agosto,
como um amante bandido,
como um impulsivo bandoleiro.

 Texto: Victor Gil

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Abraço a Lisboa

Fotografia: Rui Pires – Olhar D’Ouro

Um dia quis abraçar, Lisboa,
mas os meus braços foram curtos,
para envolver todo o espaço.
Faltavam os teus, nos meus braços,
para completar o abraço.

Vou pedir às asas das gaivotas,
às algas que atravessam mares,
às marés,  às águas do Tejo.
Às nuvens, às vagas, aos ventos,
que me tragam o teu beijo.

Pedir aos peixes todos do mar,
às canções dos marinheiros.
às rotas dos velhos veleiros.
Que no desatar das suas velas,
te tragam por dentro delas.

E quando os meus braços estiverem,
envolvidos nos teus braços,
na voz de um fado que ecoa.
Enlaçado em teu abraço,
nós vamos abraçar Lisboa.

Texto: Victor Gil

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Desejo

Imagem: Margusta Loureiro

Minha boca está fermentando os beijos,
que teus lábios irão beber,
meu corpo gerando paixões,
que um dia iremos soltar.

Se conseguir encontrar a flor azul,
que mora ao sul,
para além do mar.

Entre as folhas do teu corpo,
quero sentir os teus dois pontos,
que em teu peito sonho erectos.

Dar-te o sabor da minha boca
e que os meus beijos molhados,
reguem os teus,
gota a gota.

E na púbis delicada do teu colo,
sentir no meu desejo escondido,
a humidade do prazer,
de fazer amor contigo.

Texto: Victor Gil

terça-feira, 14 de junho de 2011

À amiga FERNANDA COSTA (FERNANDINHA)

Fernanda Costa

           A vida é feita de encontros e desencontros, partidas e chegadas, de ausências e retornos. Quando criei este espaço, fi-lo com a intenção de fosse um ponto de encontro, onde as minhas palavras se cruzassem com as imagens dos meus amigos. Foi aqui que conheci a Fernanda Costa (Fernandinha). Ela me cativou pelas imagens, pelas palavras, mas sobretudo pela simpatia. Um dia “roubei-lhe” uma foto, onde coloquei um poema chamado “Lua Azul”. Foi a primeira pessoa a quem “roubei” fotografias para acompanharem as minhas palavras neste espaço. Por isso fiquei chocado ao saber do seu desaparecimento. É verdade. A nossa amiga faleceu no dia 25 de Abril de 2011. Os meus sentidos pêsames à família. Que descanse em paz. Até sempre.

          Queria escrever umas palavras que de certa maneira, homenageassem esta amiga que nos deixou tão cedo, mas neste momento, só consigo rabiscar, estas:

Letras ausentes

Desta vez, sem coragem,
não sou capaz de plantar,
estas linhas com palavras.

Rasgo folhas indecisas,
mondando letras ausentes,
nos versos de velhas quadras.

Sou vento frio da saudade,
sou manhã de nevoeiro,
penumbra que a noite envolve.

Sou aresta dos abismos.
sou coração magoado,
gota de água, quando chove.


Texto: Victor Gil