domingo, 5 de dezembro de 2010

Devaneio de Outono


Fotografia: Pedro Sarmento
http://pintura.pedrosarmento.com/

Sobre a mesa indiferente do bar,
tento tracejar palavras de amor
em folhas de papel pautado.
Recortar ensaios de um canto,
nas linhas simples de um fado.

Entre rabiscos de tinta,
que não me deixam
escrever o enredo,
mutilo as folhas indecisas
e risco as glosas do segredo.

Através do vidro, vejo a rua passar,
as silhuetas que ameaçam chuva.
As nuvens desfraldam castelos à volta,
o vento vacila nos galhos das árvores,
as folhas disfarçam no vento a revolta.

Arrepia-me este frio,
que sinto passar
entre as ruas suspensas,
entre os ramos partidos
e o movimento das plantas.

Texto: Victor Gil

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Momentos

Fotografia: Gaspar de Jesus
http://gaspardejesus.blogspot.com/

Que dizer dos teus anseios,
contidos,
escondidos,
sonhados.
E dos beijos secretos,
ausentes,
distantes,
pensados.

Que dizer do teu claustro,
das tuas muralhas,
espelhos e vitrais.
Se os devaneios
vão com o vento,
levam a solidão do tempo
e o tempo
não volta mais.

Mas os desejos,
são momentos.
Não ficam presos ao cais.

Texto: Victor Gil

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

És o meu Melhor Soneto


Fotografia: Márcia Cristina Lio Magalhães (M.C.L.M.)

Tu és o meu esplendor, quando amanhece,
a branca Lua que me ajuda a adormecer.
A minha chama, a minha luz, quando escurece,
estrela cadente que me arrebata o anoitecer.

És o meu sonho, o meu caminho, a minha sina,
fada, princesa, moura cativa, bela encantada.
A minha musa, o meu remoque, a minha rima,
folha liberta, lançada ao vento, enfeitiçada.

Nas alas que voam sobre os mares da paixão,
na  flor que eu desejo descobrir na minha mão,
na quadra solta, na rima simples, num sexteto.

Doce guerreira, no meu castelo conquistado,
és o verbo que eu quero escrever num fado,
porque sinto que tu és, o meu melhor soneto.

Texto: Victor Gil

domingo, 22 de agosto de 2010

Caminhos Proibidos

Fotografia: Laura Santos ou Laura Sarmento
http://laurasarmento-momentos.blogspot.com/
http://laurafotosdeamadora.blogspot.com/


Quando os amantes se deitam,
entre os beijos quentes
e as roupas ausentes.
Só na espuma branca
que bate na areia,
se sente igual ardor
de uma maré cheia.

Quantos desejos gozámos,
quantas carícias guardamos,
quantos são os aconchegos
nas mãos afagadas.
Quantas malícias,
nos beijos que tento
em bocas molhadas.

Mas já que não posso acordar-te,
deixa-me então sonhar-te.
Entre os pecados proibidos
do teu oceano aberto.
Entre as fronteiras fechadas
do teu trilho secreto.

Porque entre as linhas cruzadas,
sempre voando à deriva,
ficam apenas os sonhos,
onde inventamos a vida.

Texto: Victor Gil

domingo, 25 de julho de 2010

Soneto do Desencontro

Fotografia: Cristina Mestre
http://cristinamestre-fotografia.com/

Aonde estás, que não consigo chegar perto,
em que caminhos tens o sumo da paixão.
Em que paisagens atravesso o teu deserto,
onde é que eu posso encontrar teu coração.

Será que um dia ainda teremos nossos beijos,
qualquer ternura prometida sem desvelos.
Encostar-me com meu rosto, nos teus seios
e no meu colo adormecer, os teus cabelos.

Aonde andas, amor proibido, secreta amante,
na longa estrada, no breve trilho, chão errante,
entre as brumas ou nas sombras que prevejo.

Porque eu não sei por onde ir, ao teu encontro,
resta-me apenas aqui ficar, no desencontro,
sonhar apenas com tua boca e com teu beijo.

 Texto: Victor Gil

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Pensamentos Escorridos


Foto: Maria Branco
http://mtbranco.blogspot.com/
http://fotomaria.blogspot.com/


Quando estivermos frente a frente,
vou soltar meus passos em teus momentos,
meu acalento no teu espaço.
Deixar que as palavras me desnudem,
quando sentir o teu abraço.
  
Quando eu pegar na tua mão,
quero destapar os teus segredos em silêncio,
procurar no teu seio o meu abrigo.
Sentir o teu regaço se entregar,
ao nosso desejo escondido.

Quero acariciar o tronco nu da tua árvore,
disputar os teus galhos, os teus ramos,
desfolhar as tuas folhas salpicadas.
Quero colher as tuas rosas,
porque as pétalas vão no vento desfolhadas.

São apenas pensamentos que me escorrem,
entre as minhas lembranças orvalhadas.


Texto: Victor Gil 

terça-feira, 27 de abril de 2010

Amar, é o Amor...

Foto: Sônia Brandão

Amar é brado, é revolta,
é grito de gaivota,
barco ancorado.
É rio correndo à solta,
margens devoradas,
águas sem retorno.

Amar é vento na rua
que entrança as cortinas,
que encolhe os caminhos.
É estremecer sem saber,
que os ruídos se prolongam,
sem limites ou espinhos.

Amar, é o amor sem fronteiras,
sem retorno ou passado,
é meu barco quebrado.
É andar à deriva,
se a razão é verdadeira,
sem quilha, leme ou vela.

Sentir na chama da lua,
uma mensagem distante,
que leva a sua luz brilhante,
junto da tua janela.


Texto: Victor Gil

terça-feira, 6 de abril de 2010

Para te Encontrar


Foto: Hellag


Para te encontrar,
basta um mar de diferença,
umas asas de gaivota,
uma nuvem que me leve,
para inventar a tua rota.

Basta um desvario,
um acordar mais sereno,
uma noite sem escuridão,
uma madrugada ardente,
um despertar de paixão.

Para te encontrar,
basta um navio à deriva,
um barquinho de jornal,
uma fragata sem timão,
a caravela de Cabral.

Basta um fio de cabelo,
um beijo doce, o mel,
um seio, um colo, o aconchego,
uns olhos que choram e riem.
Basta gastar o segredo.

Texto: Victor Gil

quinta-feira, 18 de março de 2010

Porque o Amor Acontece

 
Fotografia: Chapa
http://bloguite.blogspot.com/


Porque será que o amor só acontece,
quando os destinos estão ocultos,
as paredes têm fronteiras,
as distancias são ausências
e as paixões têm barreiras.

Porque será que os deuses nos atiram,
com rumores de Lua Cheia,
murmúrios de solidão,
ou se ausentam se eu desejo,
a rosa azul da tua mão.

Porque será que não alcanço o teu colo,
não bebo a tua boca,
não devoro o teu aconchego,
não tomo os teus seios,
nem entro em teu ventre meigo.

Não sei porque será,
mas sei do amor, do amar, do fogo,
das labaredas de beijos perdidos,
da chama que eu insisto em procurar,
no lume intenso dos teus lábios escondidos.


Texto: Victor Gil


sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Cavalo de Papel

 


Imagem: Tela a Óleo de Lisa_B


Não sei se vou conseguir levantar-me
do chão para onde me atiraste.
Entre guerras de beijos,
de palavras e amores escondidos,
de manhãs inconstantes
e exércitos vencidos.

Como vou conseguir colocar
todas as minhas flores nos teus vasos,
suportar o silêncio dos teus caminhos,
abrir as tuas portas devastadas.
Entrar nas planícies da tua ternura,
ou nas árvores dispersas
das tuas florestas desfolhadas.

Já só me resta ousar quedar-me aqui,
tentando domar o tropel,
dos meus cavalos de papel.

Texto: Victor Gil