quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Silhuetas de saudade

 
Fotografia: Ana Luar 

Uma singular laje áurea,
num imenso de azul,
se acendem luzeiros ao longo do mar.
Reflectido no anil,
num quadro dourado,
as rochas dispersas,
são brilhos serenos do teu olhar.

A tua ausência é como um fado,
onde os sonhos são saudades
e o coração é uma gaivota.
É rio, é mar, imensidão,
silhueta que a luz envolve,
por entre a noite encoberta.

Estás onde a lonjura acontece,
onde as pontes não chegam,
onde os ventos do norte
não se aproximam do sul.
Para lá das montanhas,
das ondas do mar,
onde atravessar o horizonte,
  é fácil em naus sem temor.

Quando carregadas de ternura,
ancoram em gares,
submersas de amor.

Texto: Victor Gil
 

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Devaneio proibido


 
Fotografia: Carmem Dalmazo


Deixa-me sonhar-te,
adiar-te o despertar,
abrir-te as frestas da paixão,
mergulhar-te entre as noites quietas,
enquanto os gestos que oculto,
se derramam nas camas desertas.

Deixa-me sonhar-te,
perder-me no teu rosto,
porque o vento não deixa,
misturar-te nos beijos que faço
e que as folhas do tempo,
se aconcheguem no meu braço.

Deixa-me sonhar-te,
abandonar-me no teu colo,
fingir que os meus olhos dormem,
quando o silêncio chamar,
o meu devaneio proibido,
de onde não quero acordar.


Texto: Victor Gil

segunda-feira, 12 de março de 2012

O Sabor dos teus Beijos

Uma explicação. Desta vez optei por uma foto minha. Esta pedra que dá título ao blogue, é muito especial para mim. Foi junto dela que nasceu o rascunho deste poema.


Naquele dia, eu quis parar o tempo,
quebrar a pedra dos nossos encontros,
adiar o florir das giestas,
abater os troncos rugosos dos arbustos,
desviar as veredas talhados na terra seca.
Naquele dia, somente queria beber, 
os beijos da tua boca.
 
Queria saber que gosto tinham,
se eram doces como os teus olhos,
sabiam ao sal do nosso mar,
se às flores plantadas no tempo,
se ao aroma dos teus cabelos.
Se tinham o fogo e a paixão, 
onde sonhámos nossos trilhos.
 
Mas com o provar do teu gosto,
depois do prazer que eu senti.
Percebi, que afinal eram gostosos,
que os beijos sabiam a ti.

Fotografia e texto: Victor Gil

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Beijo Derramado ao Rio


Fotografia: Ana Filipa Garin Scarpa
http://anafilipascarpa.blogspot.com/
http://ppfilipascarpa.blogspot.com/


Entre as velas erguidas, no Tejo intenso,
derramei um beijo ao rio, às águas calmas.
As gaivotas, se ergueram num voo imenso,
levando o beijo na ponta das suas alas.

Espalhei então, outro beijo, ao vento norte,
que voasse, sobre o vasto mar azul,
que ondulasse, de encontro à tua sorte,
que empurrasse, as brisas do vento sul.

Qual deles vai encontrar certo, o caminho,
tocar teu espaço, para chegar de mansinho,
encontrar, o rumo exacto, a direcção.

Qual vai domar a fundura dos abismos,
descer as velas no afago dos teus olhos,
tocar-te a boca, invadir teu coração.

 
Texto: Victor Gil

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Folhas de Outono


 
Foto: Guma Kimbanda
 
As folhas começam a tombar entre os caminhos,
soltam-se ao vento, num ritual de cores austeras,
deixando ver nos ramos crus, os velhos ninhos,
esvoaçando caducas em nostalgias severas.

Nas águas mansas, são como risos singelos,
beijos constantes, que se ausentam sem retorno,
numa partida, onde o adeus é dos mais belos,
desfraldam mágoas nos esteiros do Outono.

Como penas de aves, sussurrando nas veredas,
marcam atalhos de um cortejo sem palavras,
de trovas simples, embalando o ameno tempo.

Num suave deslizar, remoinham entre os pastos,
caiem no liso chão, nos recantos nos penhascos,
quais papéis gastos, deixam-se arrastar no vento.

Texto: Victor Gil